sexta-feira, 16 de maio de 2014

Em atos

Céu, de conhecido e em comum, naquele momento  o que tínhamos para falar era sobre o céu, mas não falamos do céu nublado, falamos de como os trens no Brasil são tão mais lentos, mas ainda assim é a forma mais segura de você ter me conhecido — Isso foi apenas um pensamento, eu não disse, não quis mostrar que era uma daquelas pessoas que só sabem reclamar da política, na verdade, muito verdadeira, eu nem sei como votar num candidato ainda, quais critérios eu devo levar em conta,
Sua calça combinava com o céu, isso eu nunca vou esquecer... “Eu vou de blusa preta e calça cinza”. Achei engraçada a escolha de cores, mas não perguntei o porquê. Talvez goste de andar assim, ou talvez goste também, assim como viajar de trem por ser mais seguro, apostar em cores mais neutras e combinações mais fáceis de dar certo.
O sorriso dele foi a luz que faltava, mas prefiro não falar sobre energias ou luzes, não quando quem me deu o sorriso mais bonito, é um engenheiro atípico.

ATO I — A fumaça.

Meus pés não tocam o chão ao acordar, digo, não o chão que costumo pisar todas as manhãs, o chão frio do meu quarto com pouca mobília, tocam a terra, sim, terra daquelas vermelhas. Ao meu lado esta ele: Camisa aberta, jeans rasgado, ele está com seus coturnos comprados em Londres, então, me vem a primeira duvida, onde estariam meus sapatos? Mas percorro meus olhos e os acho. Tem mais pessoas ao nosso redor, umas 15 ou 25, não consigo contar todas as pessoas, todo mundo tão próximo, fica difícil. Ele ainda dorme. Dorme com o semblante fechado, mas basta lembrar-se do seu sorriso, que o semblante fechado dele se torna o menos preocupante.
Estamos sujos. Não temos mais dinheiro pra nada. O que temos ali é o pouco cigarro que restou de ontem. O cigarro que ele não fumava a tanto tempo, mas voltou ontem, porque eu o dei na boca. Então, enquanto olho para o céu, sinto seus olhos caírem sobre mim, mas continuo olhando o céu, imaginando o que seria de nós dois se não tivéssemos nos conhecido, não fico triste, mas fico vazio, é estranho, mas parece que de um jeito ou de outro eu acabaria conhecendo-o.
— Bom dia. — Ele me diz num sorriso torto.
Eu apenas olho e sorrio. Volto para o céu. Os pássaros dançando sobre nós. Ele se coloca atrás de mim e deposita um beijo nos meus ombros. Acendo um cigarro. Fumo devagar. A fumaça invade seus pulmões e por um minuto eu tenho inveja, tenho inveja da fumaça que fica impregnada na sua pele, na fumaça que fica presa e se mistura com o oxigênio que ele precisa. Eu também queria impregná-lo. Deixar o meu cheiro, e chegar até seus pulmões. Queria poder fazer com que os outros sentissem o meu cheiro nele e não o cheiro de um cigarro barato, por mais que fosse meu cigarro barato, ninguém saberia que era meu, poderia ser de qualquer um, ele poderia ser de qualquer um com aquele cheiro, porém, se fosse com o meu queiro, seria apenas meu. Ele deposita mais um beijo nos meus ombros e me puxa ainda mais pro seu colo. O céu ou algum Deus nos olham com carinho. As pessoas começam acordar e eu começo a reconhecer o rosto de cada um. É estranho cercar-se de várias pessoas, quando você ficaria feliz estando com uma pessoa.
Não soltei nenhuma longa frase ou grandes teses sobre algo que eu acho ainda, ele não estranhou, talvez ele até agradeça quando eu fico em silêncio. Observo as mulheres com seus homens, é engraçado, porque sou o único homem pertencente de outro homem aqui e me sinto tão mais feliz do que elas. Meus olhos caem sobre ele e eu digo.
— Bom dia. — Num sorriso de satisfação.
Ele não entende porque do meu bom dia ter saído só agora, e antes que ele pergunte, em negativa balanço a cabeça, para que ele fique em silêncio e entenda que tudo está bem.
Meu ultimo cigarro está na minha boca. Ele agora fica entre minhas pernas. O céu, é a única coisa que conhecemos de verdade ali, nem a nós mesmos conhecemos muito bem, ele morava fora, eu sonho em morar fora, ele cozinha e eu também. O céu é a única coisa que sabemos bem como é, mas mesmo assim, tenho minhas dúvidas. Sopro minha fumaça devagar sobre seu corpo, ele fecha os olhos e eu sei que ele não vai mais esquecer disso, mas isso me deixa em sinal de alerta, quando olho pro alto e vejo a fumaça sumir bem na minha frente. Talvez eu seja a fumaça, mas talvez eu seja a fumaça que ele solta dos lábios e desaparece. Eu o aperto contra meu corpo e no seu ouvido pergunto:
— Já disse do que você tem cara?
— Não...
— De um pronome possessivo...
— Meu?!
Minha cabeça faz um “sim” frenético e meu sorriso fica num tamanho jamais visto, nem por mim e muito menos por ele. Por mais que eu seja a sua fumaça, aquele momento não vai sumir.

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Não demonstrou estar tímido. Não demonstrou ter medo.
Caminhamos para, onde segundo minha mãe, foi o pior lugar que eu poderia ter o levado. Lá era verde. Um verde bonito. Esse texto se torna quase bucólico nesse parágrafo, de tão verde que tinha. Sua voz entrava nos meus ouvidos e meus pensamentos estavam indo embora, eu não sabia mais onde estava, ou com quem estava. Era apenas encanto. Sorriso e olhos perfeito. Suas mãos estavam nas minhas pernas e eu só olhava para seus dentes.
Expectativa para o primeiro beijo. Expectativa para quando seus olhos estivessem nos meus. Eu depositava coisas nele que eu não havia contado e que ainda não contei. E no momento o pensamento que martelava em minha cabeça era “não bata os dentes nos meus, por favor!” e acabamos não batendo os dentes. Só havia espaço para nossos beijos e o único barulho era o de nossa respiração ficando mais ofegante. Eu acabara de ter uma certeza, por mais recente que fosse, ou por mais louco que eu seja, era essa boca e esse beijo que eu queria na minha história.

ATO II — Coração gelado, “heart blue”

Chove lá fora. Minha cama tem um vazio que sempre teve, mas na ultima noite foi ocupado por ele. Ele não tem olhos verdes, mas é maravilhoso. Meu coração tem um espaço ocupado, é estranho depois de tanto tempo vazio. Suas mãos foram tão precisas na ultima noite e seu calor foi tão bom, que dormir com o vazio de sempre é errado.
Bebo um pouco da cerveja de ontem a noite, ele faz falta e o pior de tudo é que temos alguns quilômetros nos separando, não são muitos, mas são quilômetros, mais de mil metros. Um dia após o outro, é o que todos querem, inclusive ele... Mas isso me aterroriza, porque nunca sei quando e como vou chegar no outro dia. Mas me controlo. Tomo mais uma dose e meu celular chama, são outros caras que querem sair comigo. O copo está na minha boca. Não fico tentado em sair, mas eu poderia sair. Não quero sair porque quando quero algo, não perco o foco e isso acontece quando gosto de alguém, eu quero só um quando eu gosto, não preciso de dois ou três, porém ele não faça isso, não temos um compromisso em cartório e muito menos em status de redes sócias, porém temos um ao outro, assim eu imagino.
Tem sol e mesmo assim faz frio. Jeans cortados numa bermuda, meus pelos se arrepiam de cinco em cinco minutos. Eu sempre saio de casa com roupas erradas e ele sabe, mas o que ele não sabe, é que sempre que saio de casa quero voltar pra cama que foi nossa por uma noite. Em breve estamos juntos de novo, mas até quando? Ele me joga no futuro, mas ao mesmo tempo me resgata pro presente e deixa-me ver o futuro só por uma fresta. Eu o empurro de volta pro futuro, mas também o resgato pro presente e quase faço  conhecer meu passado, mas sei que no final, eu vou puxá-lo pro meu futuro, ele querendo ou não.
Seu coração é frio, gelado. Não sou eu quem diz e sim ele, o que eu acho estranho e me assusta, até um tempinho atrás, questão de 3 ou 4 dias, ele não se colocava como o “Sr. Coração gelado”. Eu me esqueci de avisá-lo, me desculpe desde então, eu sou um maníaco compulsivo, a menor das mudanças são as que eu mais faço tempestade, talvez seja tarde demais, talvez eu agora tenha medo de segurar em suas mãos.
Eu gosto dele, confesso. É um monologo o meu sentimento? Talvez, mas na verdade não importo, eu tenho uma missão agora. Derretê-lo. Deixá-lo quente. Não só quente, mas fervendo por mim.

ULTIMO ATO — Descobrir.

Vemos a imagem de uma santa iluminada no alto de uma árvore. Não estamos drogados, só estamos assustados, Deus roga pelos pecadores, mas se não quisermos que ele rogue para nós? Envolto numa redoma de diamante, você me olha e olha para imagem. Sorri tímido, mas eu não sorrio de volta. Eu não sorrio porque sei que seu sorriso é de quem não sabe se vai ficar ou vai embora. Eu guardo meus dentes, sempre muito brancos, e coloco um lábio numa linha fina, de quem quer que você fique.
— Vamos embora? — Você me olha e olha pro lado, tentando mostrar que está escuro demais e que ninguém mais está por aí.
Eu apenas ando. Ele passa seus dedos entre os meus. Estamos atados e essa é a sensação que eu quero continuar vivendo. Sei o que ele pensa, mas eu finjo não saber. Fumo meu cigarro e guardo minhas palavras de desespero, porque é isso que eu sei fazer de melhor, desesperar. Onde vamos parar? Eu não tenho a paciência que ele tem e muito menos a frieza. Meu sangue corre nas minhas veias como quem corre atrás de sua ultima esperança, sou jovem, eu sei, mas quando vejo oportunidades de um possível amor, é como se fosse o fim. Minha garganta fecha só de pensar que ele tem outros garotos e o pior, não sou o seu favorito.
Ele me encara curioso, olho para seus olhos de volta e não digo nem meia palavra. Eu não sei se isso o deixa irritado, mas ele não gosta de quando não sabe das coisas. Também sei que ele não gosta de se apressar, e na verdade nem eu. Gosto de tê-lo um pouquinho a cada dia, mas quando os dias vão se arrastando e vejo que só eu estou me doando, a loucura me toma e muda meu trajeto.
Mas aí que vem o problema, sobre descobrir, eu não sei que fazer. Descobrir sobre o que vem por aí me deixa com medo, porque se o que vem não é o que eu quero? E o que eu quero não é o que ele quer?

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Meus olhos marejaram ao vê-lo partir. Quis ir junto, louco da vida, sem pressa pra voltar. Quis prendê-lo em mim, sem preocupação alguma com o seu trabalho, ele não morreria de fome. Mas preferi me segurar, ele vai me esperar, eu acho.
Minhas mãos não queria soltá-lo, por saber, que a dor de quem vai fica ali.
Quanto tempo nos conhecemos? Recém completados um mês. Não sei se ele é o grande amor da minha vida, talvez não, mas enquanto ele estiver na minha história vou tratar como se fossemos. Uma vida planejada em Londres não é por acaso. Um futuro promissor ou um futuro promissor separados? Seria a melhor escolha juntos, mas não depende só de mim. O seu coração é gelado, mas eu ainda não conheci. A sua boca quente e isso eu posso afirmar que conheço bem. Suas mãos ficam tão lindas perto das minhas. Seu sorriso é mais valioso que qualquer colar de pérolas... Mas o nosso futuro juntos? Bem, ele é amanhã... E amanhã ele vai estar comigo.
Em três atos ou em várias metáforas, o único medo é o da partida. 

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