sábado, 12 de abril de 2014

A piada sobre diamantes falsos

Vazio.
Meus joelhos estão no chão e encaro o sexo de um estranho; Poucos pelos, mas os pelos existentes são claros, quase loiros. Engulo tudo, me engasgo e isso o dá mais tesão. Seus dedos estão atados nos meus cabelos, ele puxa sem pensar na dor que me causa, ele não para de puxar, cada vez mais rápido e agora eu entendo a expressão "vou foder sua boca". Ele goza em meu rosto e antes que eu o impeça, ele me fotografa, com o rosto cheio daquele líquido viscoso, com os olhos distantes. Eu o conheci na rua, ele não quis me dar um beijo, ele só quis "foder" a boca de mais um garotinho.
Meus joelhos estão no chão, mas dessa vez do meu quarto, dessa vez me encaro. Meu espelho mostra a pele pálida, os olhos fundos, o cabelo sujo e a falta de peso. Minha boca não engole nada quando não estou em casa, não sinto fome; Me sinto cansado e eu não sei explicar pra ninguém o motivo. Em casa também não tenho beijos.
Diamantes falsos, para que mais uma noite eu seduza todos, eles gostam de mim quando me comporto como o dono do mundo, é isso que todos sempre dizem gostar em mim, eles falam que me comporto como os reis e rainhas da noite. Elevado o ego, eu subo nas mesas e busco aquele que todos querem, hoje eu sou o corpo do ritual, não é assim que se joga com o pecado? Sem ter medo? Duas na veia, por favor, quantos copos já foram? Não sabemos, quando meus diamantes falsos e eu estamos debaixo do céu escuro, não queremos saber de números, quer dizer, só se os números forem codificados em centímetros. Eles riem para mim, pagam as bebidas, mas sabem que não podem comigo, aqueles do outro lado do bar estão querendo acabar comigo, eles queriam ser como eu sou, mas não conseguem.
Joelhos no chão. Encaro dois. Engulo e seguro. Não sei o nome de ninguém, mas eles me chamam de "príncipe", então devo pensar que são os malditos súditos, não avisam e me fazem engolir o prazer que só eles sentem. E mais uma vez, eles vão embora, sem um beijo de boa noite.
Pés cansados, me despindo em frente ao espelho vejo o que os anos me fez tornar, eu ainda lembro de como tudo começou... Fazem três anos, três malditos anos. Trinta e seis, perdidos, meses.

Três anos atrás.

— Então tudo que vivemos... Tudo aquilo... Foi o quê?
Pairando sobre meus olhos, eu via a desgraça.
— Foi algo bom, algo bom e real... Mas já foi.
— Mas eu não entendo. Por quê você teve que então fazer do jeito mais humilhante?
Ter mais pessoas na minha cama, ter todos os amigos sabendo que pra ele havia acabado e pra mim ainda continuava, era a pior das coisas.
— Eu tive pena de você.
Pena. O que é ter pena? É permanecer e iludir só porque a outra pessoa é um coitado. Pena, esse tipo de pena não é leve e não me faz cócegas.
Olho seus olhos e vejo o outro cara na cama assistindo a cena. Ele está na cama que era nossa. Eu surto. E me atiro nele, o outro cara.
— Desgraçado! Filho da mãe. O que pensou quando veio pra cá? Sem pudor! — estou em cima dele, seguro em minhas mãos e ele apenas ri de mim, eu não entendo. — Por quê ri? Conto alguma piada?
— Você é a piada, não vê?
Eu era a piada. Ele tinha razão. Saio transtornado, sem ver nada e nem ninguém, não peguei nada e não voltei para buscar, eu era a piada! Eu era o ingênuo, o tolo e quiçá o burro. Eu não via o que acontecia bem à minha frente e agora não via nada nas ruas, percorria sem sentido e sem saber pra onde realmente estava indo...
Era escuro e havia muitos homens quase sem roupas, eu estava ali com meus cacos no bolso, com meu coração esmigalhado e sem um futuro. Então — vou chamá-lo de "meia-noite"— o Meia-noite chegou perto de mim e me puxou para si. Era alto e forte, estava sem sua camisa. Trajava apenas jeans.
— Você é muito bonito.
— Costumo ficar bonito quando sofro então... — Cada letra que eu havia dito continha ironia.
— Posso te fazer sofrer mais um pouquinho essa noite.
Então tudo entrou numa atmosfera ainda mais escura. Ele falava de sexo e eu falava de algo que extravasasse toda dor.
— Pode tentar se quiser.
Ele me arranca do bar e me arrasta para fora com força, eu gosto. Ainda choro, eu não paro de chorar. Piada.
Ele me joga contra a parede e se esfrega contra meu corpo, me aperta forte, seus dentes estão pelo meu pescoço e minhas costas, ele desce até minha bunda e seus dentes são cravados com força nela, gemo de dor, e ele morde ainda mais forte. Sua língua me invade; Áspera e nada tímida.
— Anda seu puto, fica de quatro pra mim!
Eu obedecia.
— Coloca a camisinha...
— Cala boca, eu fodo como eu quiser esse cu!
Forte. Ele fodia sem pena. A dor física ultrapassava a sentimental por um breve momento, mas não durou muito, eu voltei pro que havia acontecido horas atrás e tudo que eu pudesse fazer pra me destruir eu faria.
— Vou gozar... Hm... Ohhhhh!
Descartado como uma boneca inflável, ele não havia perguntado meu nome, não sabia de nada, ele só queria me causar uma dor sexual, pelo menos isso eu conseguia aguentar. Volto pra dentro do bar e ele está com uns amigos que me seguram na entrada e me levam pro lugar onde eu estava com ele. Um por um dentro de mim, se revesavam, eles riam e eu aguentava tudo calado, era o minimo que eu poderia fazer para me vingar.
— Fode ele caralho! Como se fodesse uma cadela.— Foi a ultima coisa que eu ouvi naquela noite.

Três anos depois.

Minhas mãos estão tremulas, não sei quantos dias mais eu consigo viver me destruindo. Não como quase nada, meu cabelo está maior do que o normal e nunca estive tão magro. A solidão me invade e um choro violento se arrebenta. Eu não quero continuar com isso. Eu não quero ainda amar quem me fez a piada principal do seu show de humor. — E eu ainda o amo.
Me jogo no chuveiro e deixo a água lavar tudo que ela pode, meus cabelos estão tão sujos... A água cai de mim mais escura e sinto vergonha do que me tornei, desse pedaço de fracasso que perambula pelas ruas atrás de alguém que preencha seu vazio. Limpo, me arrisco a comer algo, mas não sinto fome e prefiro meu cigarro. É sexta, dia de mostrar aos anjos que o demônio não dormiu. Visto jeans rascados e justos, meus diamantes falsos me acompanhando cravados entre meus dedos e pescoço.
Reinando na noite, meus olhos estão cansados e eu não aguento mais ter que fingir interesse nas pessoas que conversam comigo.
Aumente essa dose! Quero algo bem forte, porque hoje a noite vai ser minha. A música não tem letra, apenas uma batida que me faz transcender, me jogo no meio das pessoas e eles começam a cultuar meu corpo, fazem uma roda ao meu redor, todos me olham e eu dou o que eles querem, sou o cafajeste mais desejado, sou o mais sujo. Então quando saio do meios dos homens que me cercam, lá estão eles, também olhando o espetáculo. Meu copo se quebra na minha mão e eu não ligo pro sangue que escorre, eu olho para os dois, depois de tanto tempo, os dois estão ali e mais uma vez eu sou a piada.
— Você está bem?
Não. Eu não estou. — Sim... E você? — Minha voz sai muito mais alta do que deveria por causa da música e eu não consigo olhar nos seus olhos, meus olhos se encontram com os do outro cara, que me olha com pena.
— Estou bem.
Me dirijo sem pensar, ainda embaraçado, para fora e ele vem atrás de mim.
— Por onde você anda? O que você tem feito? Ninguém teve mais noticias suas, e você está tão diferente, o que você fez? Parece... Tão... Doente.
Eu estou doente, seu babaca. Você me fez ficar doente. Você me destruiu. Eu quero sair de lá, não quero responder e não quero mais sentir a dor que eu sinto. Ele espera minha resposta, e eu olho pra ele, o outro cara, ali, atrás dele, como estava na cama que era nossa.
— Ando... Hm... Por aí.
— Vamos embora, ele não quer falar com você. — Ele me olha, como se ele tivesse ganhado o prêmio e eu perdido, o outro cara,
— Ah... Vocês ainda estão juntos, eu não tinha percebido que ele estava aqui. — Tento soar irônico.
— Você está bem mesmo? Precisa de alguma coisa? — Então, tudo que vivemos é possivel enxergar em seus olhos, e então eu me policio, para que eu não perca mais o controle da situação.
— Acho melhor você ir embora, ele pode ficar bravo com você.
— Não importa!
— Concordo, não importa mais. — Digo, firme, mas com uma dor aguda em minha garganta que me faz sair correndo, mais uma vez sem direção.
"Piada". Era o que martelava e então eu corria mais, até que, paro num bar e resolvo beber algo ainda mais forte que minha dor aguda. Um homem me olha e me faz um sinal pra ir no banheiro. Eu vou.
— Curte chupar?
Assenti com a cabeça.
— Então mama seu macho.
Engulo o seu sexo. Tem um cheiro estranho. É grande e grosso. Ele força na minha garganta e tampa meu nariz, eu deixo. Quero ir ao meu extremo, quero por algum momento esquecer.Ele me invade com seu membro e me tira o ar então manda eu virar de costas.
— A putinha também dá esse cuzinho?
Eu não respondi.
Então, antes de me preparar, ele está dentro de mim. E agora eu sentia duas dores e as duas eram agudas e as duas sangravam. Ele puxava meu cabelo e segurar forte minha cintura, e começou a me enforcar cada vez mais e me esmurrar, e eu não entendia mais se era sexo ou se era estupro, ele então chega a seu ápice e me empurra pro chão e me bate até eu não conseguir mais lembrar de como cheguei em casa.
Estou péssimo. Hematomas em todas as partes do meu corpo, quem me trouxe em casa? Filho da mãe, desgraçado! Por que fez isso comigo? Isso tudo é a falta de aceitação? Não consigo nem respirar direito, será que quebrei alguma costela? Mas fico satisfeito, pelo menos fiquei apagado por algum tempo e eu não lembrei e nem sonhei com o ocorrido, não me lembrava de ter encontrado ele e o outro cara... Eles ainda estão juntos, depois de tanto tempo... Tudo dói.
Tomo todos os analgésicos que eu posso e me levo para as ruas, eu preciso me distrair, preciso tirar de mim o que dói... Provavelmente ninguém vai me querer nesse estado, mas meus diamantes falsos estarão comigo. Bêbado e sobre as mesas, todos estão de plateia para a história que eu conto, depois de tanto tempo guardando a dor, uma hora, ela transbordaria e seria pela minha boca,e não pelo sexo com estranhos.
— Então, eu fui chamado de piada, vocês acreditam? Piada! Um pobre coitado! Todos sabiam que ele me traia e que ele não sentia mais nada por mim, todos sabiam que ele estava comigo por pena, por eu ter largado tudo pra morar com ele, por eu ter sido exonerado na minha família por assumir amar outro homem. E depois de três anos, eu sinto a mesma dor! Eu me destruo um pouco todos os dias, por não ter mais ninguém do meu lado. Eu sei que vocês podem estar pensando que é tudo drama, e que muito de vocês me veem todo dia com um homem diferente, mas esse foi o jeito de me fazer distrair. Você podem ver meus machucados? Veem como eu estou péssimo? Um desses caras que eu não sei o nome quase me matou... Talvez eu quisesse estar morto...
— Isso tudo... Foi eu quem fiz?
Era ele. Não o homem que quase me matou na noite passada, nem as centenas de homens que eu fiz sexo, mas sim ele.
— Olha só, quem está aqui! Esse é ele! Quem me deu os anos mais felizes e infelizes, parabéns ao senhor!
— Sem sarcasmo! Eu ouvi tudo... Eu não sabia... E eu tentei ir atrás de você depois daquele dia que você saiu da nossa casa transtornado.
— Sua casa! — Gritei. A loucura tomando conta de mim.
— Desce daí, temos que conversar.
— Não temos.
Então ele sobe na mesa e me puxa colocando-me em seus braços, me carregando até onde não tenha ninguém nos olhando.
— Me escuta!
Gargalho! — O que você tanto quer me falar? Você ainda está com ele.
— Eu não estou mais com ele!
— Vocês estavam juntos ontem...
— Foi uma coincidência... Ele estava aqui também. Nós não demos certo. Nós não continuamos, depois daquilo. Até tentamos, mas eu e ele nunca daríamos certo, ele não era você e eu falo isso com a maior mágoa do mundo, de ter feito o que eu fiz e de ter falado o que eu falei. Tudo que nós vivemos... Eu não queria ter jogado fora.
— Você não pode depois de tanto tempo falar essas coisas para mim, achando que vai corrigir.
Ele então se aproxima de mim e me segura mais firme. Meus hematomas gritam e eu faço isso junto. Ele não pode depois de tanto tempo e de tanta dor e de auto-destruição, agir como se nada tivesse acontecido. Mas eu tenho tanta saudade do seu lábio repousando no meu... Ele fixa os seus olhos nos meus e chega mais perto.
— Eu sinto sua falta.
— Eu também sinto sua falta... Mas não devemos. Passou tanta dor por mim...
— Eu escutei você contando desde o inicio... Eu também sofri sem você, eu falo sério. Mas eu sei que não foi como você... Eu queria roubar seu sofrimento para mim.
— Você disse que não me amava mais.
— Eu achei que não te amava. Tudo era tão comodo, tudo era tão sem emoção entre nós, você parecia distante e eu também, eu não quis te enganar, eu sou o único culpado, mas todos merecem uma chance de julgamento e quem sabe absorvição.
— Mas nem todos conseguem sofrer o que eu sofri duas vezes, e eu tenho certeza que eu também não consigo. Você me esvaziou por completo. Eu virei um lixo. Descobri muitas coisas da vida, que me enojam. Eu vi pessoas me tratando como um pedaço de carne e outro me usando como... Doeu muito ter minha família contra mim e não ter sido recebido em casa de volta, doeu muito ter os amigos, os nossos amigos, nenhum do meu lado, foi duro ter que começar sozinho e não ter você do lado.
— Você ainda me ama?
— Amo. Mas o amor nunca vai ser apenas o necessário. E tenho certeza que o seu amor não vai ser tão maior que o meu, que o seu amor, não conseguir preencher o meu vazio. Eu não quero mais me destruir como eu fiz durante todos esses anos, vou mudar, mas não voltarei.
— Eu te amo, eu tenho certeza que te amo.
Engasgo num choro de quem não sabe o que falar. Choro um choro de alivio e de lavagem da dor.A vida mostra ao ser humano o quão podre se é viver, mas só conseguimos perceber a podridão do mundo quando as costas e as portas fechadas são as únicas paisagens que podemos ver. A solidão me ensinou que meu vazio só eu posso preencher, a minha dor ensinou que só eu posso me curar. Destruir-me não me levou para nenhum bom lugar e só agora eu percebo, só agora eu percebo, porque sei, que foi porque ele veio até a mim, porque ele esclareceu tudo. Os meus diamantes falsos estão desgastados e está na hora de serem substituídos pelos novos.
— Olha... Eu acho que não...— Então ele me beija. Preenchendo tudo que estava vazio. Me trazendo de volta.
— Eu não vou ser uma piada outra vez.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Caos

Você gosta do meu caos, gosta de quando louco, grito seu nome.Você gosta quando o seu amor me machuca.
Eu tento fugir de você e me encontro preso nos seus braços nos meus sonhos. Eu quero fugir de você, porque cansei de alimentar essa dor que aumenta continuamente, incansável. Tento viver sem você preso em mim, mas seu cheiro, me perturba, sua voz assombra meu silêncio e me faz sempre cair em você, meu caos.
Você dizia que correr contra a corrente era tão difícil, eu não acreditava, mas agora que você é a corrente que eu tento enfrentar, para ver se dessa vez eu consigo arrebentar, tudo parece tão mais difícil. Em nossas fotos parecemos tão felizes e tão únicos, dois jovens que se amam, mas ficamos presos nas fotos.
Comer o pão que o diabo amassou não é tão gostoso, quando você sabe o gosto das nuvens, querido. Eu rogo pela sua volta desde a nossa ultima troca de palavras desajeitadas, tentando demonstrar que estamos bem sem o outro, e aí que mais uma vez vem a minha eterna, e cortante, dúvida: Você tem sofrido assim como eu? Eu rogo pelo seu arrependimento por ter me deixado, tão triste ver nossos sonhos serem desfigurados assim, como desenhos feitos na areia da praia. Eu não tenho forças. Eu já engoli muitos amores, não posso engolir mais um, não quero ter que seguir em frente mais uma vez, não quero ver você viajando para casa de outro novo amor, mas isso não é só sobre as minhas vontades... Eu escrevo agora engolindo a poesia e te mostrando a praticidade das coisas:
1. Volte para o meu lado, aqui é o seu lugar, ninguém é tão louco como eu sou e você sabe disso (e gosta disso);
2. Não desmorone o nossos castelo, você mesmo disse que faria de tudo para proteger nossa corte;
3. Eu sei que sua pele sente falta da minha e que seu coração chora por estar longe do meu, por que lutar contra tudo? Por que não tentar? Por quê?
Eu tenho o gosto de caos que te intriga, meus lábios repousam nos seus melhores que o dele. Minha mão toca você melhor do que qualquer outra mão. Eu espero você todas as noites. Espero seu beijo de boa noite e você se encaixando em mim como nos velhos tempos, todas as noites. Eu tenho não só o caos, mas tenho a doçura que lhe roubaram. Fume um cigarro comigo e me dê duas horas de conversa sincera, eu coloco nossos nós nos eixos e ainda te faço sorrir.
Você gosta do meu caos, e gosta da minha loucura.
Eu gosto da caótica vida que levamos juntos. Gosto do seu agridoce e do seu cheiro.
Caos é a minha vida sem você.