domingo, 30 de junho de 2013

Festa

Meus olhos estavam nos seus, mas eu não estava mais em mim.
Te amando para sempre, eu deixei-me ir como disse que deixaria se você não me segurasse. Era outubro, o mê do meu aniversário e eu havia planejado o meu aniversário dos sonhos, tinha tudo que eu queria, as boas músicas, os bons amigos, a parte boa da família, a boa comida e bebida, tudo pra ser perfeito e do jeito que eu sempre quis, na praia, com velas e um ar meio melancólico, com saudade da infância e um passo pra finalmente vida adulta. Você me ajudou a planejar tudinho, desde quem chamaria até os preparativos finais, a festa tinha se tornado não apenas minha, mas sua, nossa, era um marco pra nós, primeira festa promovida pelo casal e que casal nós eramos, meus amigos tinham inveja, todos tinham inveja da gente e talvez isso seja um consolo hoje em dia, eu posso falar que foi a inveja deles que nos fez rachar e não aquele cara mais bonito que eu dos olhos azuis que pelo qual você me trocou.
Minha mãe veio de Minas, todo mundo veio pra festejar meus finalmente vinte anos. Eu lembro como se fosse ontem, eu me sentia tão triste nesse dia, como sempre e até hoje me sinto triste nos dias do meu aniversário, detesto envelhecer, tenho medo mesmo, receio! Não quero ficar gagá e muito menos destruído pelo tempo, de todas as formas possíveis, sempre quis me congelar e se eu soubesse o que teria acontecido mas para frente eu teria feito, teria me congelado e congelado você junto a mim, pra sempre. A festa foi ótima e no dia você resolveu fazer uma surpresa pra mim, me deu a chave do seu apartamento e me chamou pra morar com você, eu chorei na frente de todos, eu era um tolo, tudo que você fazia por mim me emocionava. Nos embriagamos e transamos ali mesmo, na praia, depois que todos foram embora, foi a coisa mais animalesca que havíamos feito, trassamos como dois animais ferozes, você foi duro e intenso, eu fui voraz, meus gemidos eram urros, nosso suor era o nosso selo de que seriamos pra sempre, nossos dentes cravados um no outro e um amanhecer entorpecedor, os dois nus com o sol nascendo e as pessoas chegando, foi divertido acordar sem saber onde estávamos e ter que sair correndo as pressas porque não poderíamos ser presos, nunca vou entender porque é atentado ao pudor estar pelado numa paisagem natural...
O tempo foi passando. Fomos vivendo como um casal que divide as despesas, mas você foi mudando, havia perdido o seu frescor. Tudo então começou a desencaminhar, minha mãe morrerá e pai eu já não tinha mais, meus amigos não eram tão bons amigos assim e você começou a ser um amor torto, aliás você sabe o que é amor torto? É o amor que machuca, maltrata. E você começou a se transformar num amor torto, começou a sair sozinho, a nunca chegar na sexta de noite. Isso foi me deixando louco, eu não sabia mais o que fazer, estava me sentindo a pessoa mais só do mundo. Eu acabei perdendo meu trabalho, não tinha mais como dividir as despesas com você, e quando fomos fazer um ano que morávamos juntos você disse que queria ter uma conversa comigo, eu achei que seria mais uma de suas surpresas uma forma de se redimir ao modo que estava me tratando e tratando a minha dor por ter perdido a minha mãe, porém não, você fez diferente... Você abriu mais uma ferida, não soube respeitar minha dor e jogou a bomba em cima de mim: "Eu tenho outro".
Você tinha outro.
Você tinha acabado de não me pertencer mais.
Eu não tinha você mais.
Quis fugir, sumir, não sabia o que fazer. Então meus olhos se fixaram aos seus e minha garganta faltou a voz. Eu não estava mais ali, minha alma havia sido escorraçada dali, mas então num impeto de misericórdia quase que um sussurro eu pergunto "Por que fez isso?", e eu acabara de cometer o maior erro da minha vida, digo, não erro, mas sim, pior forma de entender o porquê, você me deu uma resposta, àquela que eu temia, "Eu não te amo mais".
Você não me amava mais.
Você não me ama mais?
Então a ficha caiu, me direcionei ao nosso quarto, que antes era seu e naquele momento acabara de voltar a ser seu, retiro tudo que é meu e saio sem nenhuma palavra, sem permitir-me dizer-te adeus.
Agora é estranho seguir sem você, a pessoa que eu tinha certeza que teria pra sempre, era tão doce e puro, era tão nosso e eterno que nunca imaginei sermos uma rachadura como hoje, e ontem, isso você nunca saberá, mas ontem eu vi você na praia, na festa de aniversário desse seu novo amor, vi tudo se repetindo, vi aquilo que um dia foi meu, vi a festa na praia, vi outros amigos, vi um novo amor em seus olhos e tudo foi tão triste, tão doloroso... Mas também tive pena desse novo garoto, pena porque sei que você se acabara cansando dele e de qualquer outro, porque só agora eu percebi que pra você, tudo sempre foi festa.

domingo, 23 de junho de 2013

290

Gostávamos de sermos únicos, tínhamos as mesmas dores, achávamos que eramos gêmeos da alma — talvez fossemos, talvez somos — Mas tudo se torna tão relativo à partir do momento em que tudo se explode e o amor não é mais o suficiente para nos segurar. Não foi necessário apenas amor pra manter a corda desse cabo de guerra em nossas mãos, nós dois desistimos.

O céu tem incontáveis estrelas, nós temos intermináveis e incalculáveis cicatrizes.
O nosso amor era transbordado por dor e hoje se faz de um vazio inatingível; eu pedi para que não pudesse soltar meus pulsos, eu implorei para que se atasse junto dos meus calcanhares, pedi de todas as formas que não me deixasse voar, voar sem você, mas você foi fraco, não teve força suficiente para me segurar, para segurar tudo dentro de si; faltou-lhe força para que deixasse ver que eu era isso que eu sou, que eu seria isso que eu sou pra sempre e não mudaria. A sua falta de força se uniu à minha falta de coragem.

"O amor começa quando a alma transborda. O amor termina quando não se vê a alma pelos olhos"

Essa foi a frase que me disseram.
Essa é a frase que agora eu digo. 
Falava repetidas vezes em minha cabeça. Fitei-me no espelho por algum tempo seguido e não sabia mais se havia alma nos meus olhos, provavelmente ainda exista alma nos meus olhos, mas uma alma ferida e provavelmente nos seus olhos também. 

"O amor é o começo de tudo, inclusive da dor. Começamos a amar, começamos a doer". Já lhe disseram isso em algum canto do mundo? Adiantaria alguma coisa se lhes tivessem dito antes de tudo começar? Volte ao tempo, volte ao nosso telefonema na madrugada fria. Toque na ferida! Mudaria alguma coisa? Não teria deixado a alma transbordar? Ou teria deixado apenas a minha transbordar por você?

Sei todas as respostas.
Me dói saber de suas respostas.
Em mim nada mudaria, até porque, você sabe que eu gastaria todo meu sangue por você. Eu transbordaria aquilo que eu não tenho em mim para que eu o tivesse comigo, e foi o que eu fiz todo esse tempo, eu me doei, me doei para tudo aquilo que eu achei que teria um final que merecêssemos e não esse final que nós decidimos, um final de dois fracos.

Gostamos de brincar com o amor e é claro que você sabe melhor do que eu. Você sempre será melhor do que eu em tantas coisas, mas sei que eu serei melhor que você em uma única coisa: em amar. Você pode até entender melhor do que eu, sobre o amor, mas sabe que não saberá amar como eu amo, apesar de que sentir-me amado por você é o que me faz ser um corpo com alma e não apenas uma casca oca.

Amamos no escuro as dores um do outro, mas quando vamos pro claro odiamos o que vemos. Odiamos por sabermos que é aquilo que queremos e nós sabemos, que nos queremos.

Posso morrer mil vezes, renascer mais mil e ainda será você.
Você pode querer apagar o sonho que teve onde eramos felizes e tínhamos duas crianças birrentas, mas sabe que sou eu. Sou eu quem lhe fará subir ao céu e descer ao inferno sempre.

Você pode ter um pouco de mim em você, mas eu sei que você me quer é inteiro em você.
Você pode me rogar que um pouco de você vive em mim, mas sabe que só vale pra mim você inteiro.

Amamos um ao outro, mas nos odiamos 290 vezes no amor.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Amando

Você busca no outro aquilo que falta em você. Você finge encontrar no outro o vazio que ainda está incompleto, mas finge que está transbordando.
Chora as lágrimas, chora as dores, chora o que não se tem pra chorar.
Onde vão parar as dores, que ficaram grande demais pra se abster apenas dentro de nós?

O sol tocou minha pele naquele dia de uma maneira fria, o céu me olhou mais triste do que o normal. Tinha decidido não pensar, não lembrar mais. Mas tudo me fazia sempre voltar, na verdade não precisava de nada pra me fazer voltar ao mundo das lembranças, sempre usei qualquer coisa como desculpa pra me fazer voltar pra você. Eu tinha em minha garganta um deserto cheio de vontades, cheio de desejo do beijo doce que só você tinha. Minha garganta era um deserto que queria gritar: Volte! Meus pés eram pés que queriam ir em direção a você, mas minha alma já havia se tornado uma alma ferida e cansada e a unica coisa que me dizia: Fique. Talvez ir até você e gritar tudo que há dentro de mim resolvesse, mas preferi ficar e deixar o silencio.
Já viu uma flor morrer? Eu sou a flor. Lenta e de pétala em pétala eu morri. Estou morrendo.
Já leu que morrer de amor é poético? Faço da minha vida um eterno poemo, onde tudo que se lê é sobre você. Sobre amar você.
A lua chegou. Sempre com a chegada dela se vai mais um pouco de mim. As noites, as estrelas, o escuro, me levam imediatamente até você, porque foi neles que nos encontramos e mergulhamos nossas almas uma nas outras, foi numa noite fria, onde a lua pairava em nossos cabelos que nos mergulhamos. Você saiu limpo dessa, mas eu ainda me afogo em você.

Você cria um amor.
Você recria a dor.
Tece uma nova teia.
Desenha um céu com estrelas.

E pra quê a gente ama no final? Amamos pra recompensar a dor que não se mantem apenas dentro de nós e transborda; pra compensar o vazio que nos absorve cada dia mais e nos faz ficar obsoleto ao mundo.
Amamos porque queremos ser amados. E continuamos amando, mesmo quando não mais amado, porque achamos que devemos morrer de amor, e esquecemos de morrer por viver.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sussurro

Encaro a parede e nada. Nada de respostas para minhas perguntas. Quero chorar e ao mesmo tempo não me permito.
Sussurro seu nome. Minha voz falha. Estou com frio, uso meias azuis, calça preta e um moletom cinza. Quero chorar e acho que agora posso me permitir.
Eu choro.
Minha primeira pergunta é um dos porquês que eu ainda não consegui a resposta, o mais chato, talvez essa pergunta seja a mãe de todas as outras. Por que não deu certo? Fomos imaturos demais? Amamos demais? De menos? Qual foi esse erro? Tem reparação? Ou agora é aquele “nunca mais” definitivo? 
O sol não vai nascer hoje, tempo nublado, chuva fina. Você gosta quando o tempo fica assim e dias assim são os piores pra mim. Encarar um dia todinho de lembranças suas tem sido difícil, sei que se você estivesse vendo como encaro meus dias iria achar que nenhum momento dele você passa pelos meus pensamentos, mas se enganaria, vivo você todas as horas dos meus dias, tenho você em mim, na minha pele, em tudo. Seu amor não impregnou apenas meu exterior, mas também interior. Minha alma. Minha alma é cheia de você, aprendi um novo eu com você, e sei que pelo menos esse novo eu permanecerá.
Queria gritar seu nome. Mas só sussurro. Não quero acordar ninguém, todos acham que já superei você, todo mundo acha que já to bem, que só porque fui a uma festa e beijei alguém significa que superei você, que deixei de amar. Também tem aqueles que falam que nunca amei você, que foi apenas uma coisa de carência, um momento. Mas assumo, no começo pode ter sido, mas depois… Depois não. Depois foi amor, que evoluiu pra doença. Uma doença boa de inicio, mas depois uma doença que me arrancava todas as energias, que me domava. Mas eu falo sério quando todos acham que esqueci você. Ninguém mais pergunta sobre você ou lembram do seu nome, deve ter sido porque eu parei de falar de você, eu não aguentava mais todos me dizendo que você não me merecia, que você era cruel na sua forma de amar. Porém, também assumo, que um dia achei você cruel na sua forma de amar, mas vi que na verdade você só é assim por ter esse medo de amar, medo de não ser amado de volta, medo do que poderia acontecer com o amor que você sente ou sentia ou ainda vai sentir.
Não sussurro. Consigo falar normalmente o seu nome, como quando nos falávamos pelo telefone. Sinto falta da sua voz. Na verdade, sinto falta de tudo. Como isso pode? Por que não consigo superar você? Sinto falta de quando você sentia minha falta. 
Escrevo com um choro engasgado em minha garganta, com um coração que não sabe mais como se curar.
Nós continuamos vivendo depois de tudo. Você se canalizou para os estudos e eu fiquei canalizado pro nada, pro vazio. Não sei se isso piora as coisas, ou se eu acho que me afastando e interrompendo o meu futuro um pouco vai me fazer curar. Eu sei que não. Sei que nada vai fazer isso mudar, nós sabemos. Pelo menos, eu acho. Deveríamos.
Agora sorrio.
Lembro da sua foto de quando era criança. Você me deixou ver apenas uma, que esta guardada a sete chaves na minha gaveta onde não deixo ninguém tocá-la. Suas bochechas altas, seu cabelo sobre os olhos, lindo e cheio de brilho, sua pele branca cor de gelo e seus lábios cor de morango. Seus olhos já tinham a tristeza que hoje eles têm. Mas também eles tinham um quê de curiosidade, de travesso. Queria ter visto você quando criança, será que éramos tão distintos como somos agora? Minha mãe dizia que eu era mais quieto que meu irmão, mas você, eu aposto que não! 
Ainda sorrio. Sorrio de um jeito que só você me faz sorrir.
Sabe aquelas coisas que sempre escutamos, sobre amor? Paixão? Acho que agora entendo. Só de pensar, por pior que estejamos, por mais que estejamos tanto tempo sem nos falarmos, quando tocamos no assunto: pessoa amada, tudo muda. Eu vejo uma mudança radical em meu corpo quando falo de você, sinto uma energia boa passar da cabeça aos pés, sinto meus olhos ganharem vida. Eu mudo pra melhor. Você me melhora.
Acredito que não exista uma vida sem você, nem que você esteja apenas em meus pensamentos, nem que esteja presente em uma foto sua de quando tinha cinco anos.
Sou capaz de entender o que é o significado do “para sempre” agora. Tudo bem, sei que somos muito crianças se formos olhar o quão enorme é o sempre, mas também sei que essa força que eu sinto quando penso é você é eterna. Sei que você tem um pouco de mim em você, sei que te ensinei sobre coisas que você nunca teria feito questão de aprender. E você sabe que tenho você em mim. Você mesmo já me disse isso. Tenho você em mim e vou levar isso comigo, eu sei que vou, não me pergunte o porquê de toda essa certeza, apenas aceite.
Dessa vez é o fim?
Não gosto de pensar assim, nisso de final, de término. Sobe-me um soluço, não consigo mais falar seu nome, nem pensar em seu nome, só visualizo seu rosto de quando criança, lindo, feito um anjo barroco, esculpido. E se for o fim? Por que deixamos chegar ao fim? Todas as perguntas que me perturbam todo dia não vão cessar, e não terão uma resposta. Mas pensar que tudo acabou, que nunca mais saberei de você, automaticamente me destrói, automaticamente me tira o chão, mesmo eu estando firme sobre ele e correndo pra espantar todos esses demônios que o amor é capaz de criar. Pensar nos próximos dez anos e não ver você de alguma forma na minha vida é estranho, porque não era assim o planejado, era diferente, muito diferente do que a realidade me mostra. 
Todas as noites sinto você;
Todas as manhãs quero acordar com você.
Nunca ter isso já era a pior das coisas, agora ver que nunca irei ter é pior. Porque antes havia uma esperança, mas às vezes a matamos.
E nós escutamos que amar era viver, que o amor era vida, mas chegamos há um ponto em que amar pode significar morrer, querido. E não digo que é uma morte literal, não digo isso, talvez… Mas a morte que quero dizer é a morte que existe e só nós vemos que ela existe, aquela morte de amor, que mata um pouquinho hoje, um pouquinho amanhã, que nos deixa com os olhos amuados, com o coração gelado e uma saudade daquilo que vivemos. Amanhã eu vou morrer um pouquinho indo pro meu trabalho, indo pra academia, mas ainda assim continuarei vivendo para os outros.
Então eu sussurro:
Eu amei. E vou amar.
Você fará parte de mim sempre, e eu sei que sou parte de você.

Clarice: Manhã

Gritei o ultimo verso da minha música favorita e caí num sono profundo. Na manhã seguinte tudo parecia outra vida, um novo eu. Desci as escadas, saí pelas ruas olhando um céu azul com uma ponta cinza, ainda com o gosto do café na boca o beijei. Um estalo, sem muita língua, mas com um vazio estranho.
Você já leu Clarice? Já sonhou com monstros e anjos? Foi assim que foi beijá-lo na manhã seguinte. Ele me perguntou se eu havia feito alguma coisa no cabelo, perguntou o que havia acontecido que eu estava tão diferente. O gosto de café ainda estava na minha boca, agora se misturava com o gosto de café que tinha a boca dele. O seu café não parece ter amanhecido tão amargo essa manhã quanto o meu. Respondi que nada estava diferente, tudo normal. Ele sabia que não estava, eu sabia que não estava e queria fingir que estava, mas durante todo o dia as pessoas me perguntaram o que acontecera, porque eu havia ficado mais calada, mais obsoleta do mundo. E a minha resposta para todos era que nada havia mudado.
Mas havia mudado e eu percebi que mudará na manhã seguinte. Olhos ressecados, garganta ainda mais seca. Não acordei no meu quarto, ta tudo tão marrom e o meu quarto é todo em azul bebê. Levantei e fui até a janela a visão era outra. Olhei pra todos os lados e ninguém, então eu gritei e ele saiu do banheiro sem roupa, sem nada, apenas molhado pois acabará de sair do banho e perguntou “O que aconteceu, baby?”. Baby? Quem é você? Eu fiquei fitando-o. Eu conheci esse cara onde? Eu namoro, e não, ele não é o meu namorado, meu namorado não tem uma tatuagem no peito e não é tão bem dotado quanto aquele cara que havia saído do banheiro perguntando qual era o problema, baby. Mas ao invés de perguntar o que havia acontecido, eu berrei, berrei o mais alto que podia e ele se jogou em minha direção tampando minha boca, eu berrei ainda mais, ele me segurou forte e agora não tinha mais as mãos na minha boca, e sim, a boca na minha boca e então eu comecei lembrar-se da noite que eu não tinha havia me lembrado ao acordar. “Quem é você?” depois do beijo que me fez voltar ao passado, à única coisa que sai de mim foi isso. Quem  seria ele? Ele me olhou bem fundo, acho que ele não entendeu de primeira que eu não me lembrava de nada da noite passada, ou ta achando que sou alguma maluca. “Rodrigo” sorriu depois de responder e voltou ao banheiro, ele me chamou enquanto tomava banho, eu não fui, mas também não fui embora, coloquei minhas roupas e o esperei sair do banho.
— Tudo bem?
— Não sei ainda. O que aconteceu ontem? — Eu estava confusa, transtornada, quase surtando.
— Você não lembra? Você brigou com um cara no bar ontem, foi feio, ele saiu berrando e você ficou lá berrando e chorando e todos te olhando, então fui lá tentar te ajudar e você berrou também comigo, ainda mais alto do que com o cara que você tinha berrado antes de mim, e então você se desculpou e pediu pra eu me sentar com você... Então pediu pra eu te levar no lugar que tivesse a melhor música, e eu te levei e não sei o que você bebeu que você ficou bem louquinha... E então acabamos aqui.
Tinha acabado de me tornar uma vadia na noite anterior. A manhã estava realmente com um gosto diferente, de pênis.
— Nós transamos?
Ele riu divertido — O que você acha, baby?
— Ai. Puta. Merda. Meu Deus, nós transamos.
— Sim, e você é animal.
Quis me atirar da janela, quis me afundar no chão.
— Meu Deus, e o Bruno?
— O cara que você brigou ontem?
— Meu namorado. — Disse envergonhada.
— Não sei dele. Aliás, por que vocês brigaram?
— Também quero saber, porque não me lembro de nada... Agora tenho que ir embora.
— Fica, deixa eu te fazer algo pra comer...
— Não precisa, preciso ir.
Levantei e fui rumo à porta. Eu sabia onde era aquele bairro pelo menos. Chego em casa e perguntas da minha mãe me bombardeiam “onde você esteve?”,“o que aconteceu? Você saiu ontem pela manhã e não voltou, saiu estranha e voltou ainda mais estranha, onde estava?” ,“seu namorado ligou te procurando”. Ele me ligou. E minha garganta parecia um deserto. Ignorei o que minha mãe disse, as perguntas e fui para meu quarto,  tomei um banho rápido, coloquei um roupa qualquer e saí de casa mais uma vez, mas dessa vez fui pra um lugar que eu sabia muito bem onde era: a casa do meu namorado, talvez ex?
Ele abre a porta, seus olhos encontram os meus, uma energia estranha ficou no lugar quando isso ocorreu.
— Entre.
— O que aconteceu ontem?
— O quê? Que brincadeira é essa?
— Aconteceram coisas ontem depois que você foi embora, ok? Eu bebi demais e realmente não me lembro de nada...
— Não se lembra de ter me chamado de fracassado? De ter falado que eu nunca fiz você feliz? De ter colocado todos os tipos de defeito em mim? De ter falado que não me ama mais? E ainda por cima falar que o nosso sexo não é bom pra você? Também não se lembra de falar que ta comigo esse tempo todo por sentir medo de ficar só?
E então eu agora entendo o sabor do café amargo daquela manhã. Foi ali que tudo começou. Eu vi que não estava feliz, que não o fazia feliz e resolvi jogar tudo pro auto, péssimo modo, mas foi o mais sincero que eu podia ter feito.
— Vou embora.
— Por favor, faça isso, depois te mando suas coisas.
— Eu sinto muito.
— Não sinta.
Saí de sua casa. Louca. Transtornada, nunca tenho coragem pra tomar atitudes que façam grandes mudanças radicais na minha vida e num surto eu tomo a decisão mais drástica que havia tomado, nem na escolha da faculdade foi tão difícil assim pra mim. Meu telefone toca, é um número que nunca vi na vida, atendo.
— Oi.
— Quem fala?
— Rodrigo.
— Ah, você...
— Sim, eu, tudo bem com você?
— Não sei, era pra não estar, terminei o meu namoro de quatro anos, mas to normal, é como se eu tivesse assistido um daqueles filmes muito tristes, mas logo depois escutei uma piada e esqueci o que o filme me fez sentir, sabe? Sinto-me assim...
— Não gostava dele?
— Não mais...
— Eu atrapalhei?
— Na verdade não, ajudou, eu que atrapalhei tudo, tinha muito tempo que tudo estava assim, revirado e errado, sabe? É melhor assim.
— Eu ainda não sei o seu nome.
— Não vai saber também — Eu ri divertida, como muito tempo não havia, pelo menos, não com outro homem.
— O que você faz da vida?
— Destruo corações desde a noite passada.
— Eu to falando sério, o que você faz?
— Trabalho numa editora, aspirante a escritora e você?
— Dentista.
— Não sabia que dentistas eram assim, bonitões...
— Você me acha bonitão?
— Um pouco.
E conversamos por umas seis horas seguidas. Ele passou a me ligar todos os dias e todos esses dias ele ficou sem saber meu nome, não marcamos de nos encontrar, tudo parecia superficial ou irreal demais pra mim. Eu havia acabo de ver o filme mais trágico da minha vida e agora começara assistir outro, uma comédia-romântica. Era estranho, eu não me sentia assim desde a adolescência quando o Paulo me chamou pra sair quando fiz dezesseis anos. Então ele deixou de me ligar, e isso me incomodou. Então resolvi tomar mais uma decisão e ligar.
— Oi.
— Quem fala?
— Clarice...
— Ah, então esse é seu nome?
— Você ficou sem me ligar só pra saber meu nome?
— Sim... — Riu como se tivesse ganhado uma aposta.
— Muito esperto. — Disse humorizadamente acida.
 — Quer sair comigo Clarice?
— Seria um prazer...
E então o café deixou de ser amargo e eu voltei a não entender as manhãs, porém, de um jeito bom de não entender as coisas.



segunda-feira, 10 de junho de 2013

O amor da minha mãe

Aprendi com minha mãe que não precisaria me casar com o grande amor da minha vida. É, eu sei, muito perturbador e triste descobrir que o grande amor da vida da sua mãe não é o seu pai, e ainda mais assustador, saber que o nome do seu irmão era o nome que sua mãe e o outro cara (o amor da vida dela) escolheram juntos para o seu respectivo filho, quando ele tinha vinte e cinco anos e ela apenas quinze. Ela me contou tudo, foi engraçado e tão triste ao mesmo tempo. Os seus olhos sorriam enquanto ela contava que desde os nove anos de idade falava que iria o namorar, pela primeira vez eu vi o que era amor de verdade, foi lindo. Mágico, minha mãe, então que já era minha melhor amiga, me colocava como seu melhor amigo... O que minha mãe disse nunca vai sair da minha boca, nem de mim, porque eu aprendi que o meu grande amor, talvez, não seja o pai dos meus filhos. Essa história pode ter se repetido inúmeras e vai continuar se repetindo mais inúmeras vezes pelo mundo. Várias “Julietas e Romeus”. Muitas histórias de amor iguais da minha mãe, mas talvez só tenha um filho que saiba disso tudo, e esse filho sou eu.  E o que irei contar agora é a história de amor mais legal e inimaginável que eu poderia lhe contar...
“Ele não era bonzinho e seu avô não gostava dele. Sua avó me achava maluca, porque eu comecei a gostar dele aos nove anos de idade, ele tinha dezenove na época, ficava o dia todo no bar da sua avó, ele me ensinou a tocar a única música que eu sei no violão, e é do Alceu Valença. Mas então eu fui pra Belo Horizonte e ele cresceu, não sei o que ele fez durante o tempo que eu fiquei fora, não importa muito... Eu voltei pra cidade que a gente morava quando eu era criança, voltei bem diferente da criança que ele viu falar que iria namorar com ele, eu não havia o esquecido. Não mesmo! Quando ele me viu depois de todo o tempo longe, ele não acreditou, ficou meio embasbacado, sabe? Homem é tudo igual... Mas ele tinha uma coisa diferente, é claro! Eu tinha acabado de descer do ônibus, ele perguntou se eu era aquela menina que falava que iria namorar com ele e eu não dei muito atenção, ignorei, fingindo não saber do que ele estava falando, mas é claro que foi tudo um truque, eu lembrava muito bem do que eu havia falado e ainda mais da vontade que eu tinha, não foi coisa de criança que se apaixona pelo primeiro professor não, era diferente, era algo mais alem, sabe? Mas ele foi tão doce que me fez falar que sim, eu era a criança que ficava vendo ele tocar violão, me convidou pro cinema, sim, logo de cara, eu disse que ia pensar e saí andando, aprendi com sua avó que não pode dar mole pra homem...”
Os meus olhos estavam sorrindo junto com ela, porque tudo me fez ir até você, e enquanto ela me falava, queria viver o mesmo que ela, queria ir ao cinema com você, não disse que iria namorar com você quando eu tinha nove anos, mas posso dizer agora, perto dos meus dezenove anos que é você que eu quero? É valido pra você? É valido se eu disser que eu sei que é você o amor da minha vida? Que é você quem eu quero e é com você que eu também tenho vontade de escolher o nome dos meu filhos, por mais que eu queria filhos daqui há uns vinte anos?
“... Ele no cinema não encostou a mão em mim, daí eu pensei que ele fosse gay né? Então quando a gente estava indo embora ele me beijou e eu não demonstrei gostar, fui durona, ele ficou encabulado com isso, perguntou qual o problema, se eu não tinha gostado e mostrou todas as suas inseguranças, mas o que ele não sabia e ficou sem saber, pelo menos por um bom tempo, é que eu tinha era amado! Sim, porque depois que eu cheguei em casa eu sumi pra ele, queria testar se ele estava afim mesmo de mim... E acho que sim, ele foi à casa da sua avó mais de cinco vezes na semana, só pra saber se eu estava em casa e eu falando “Mãe, se você falar que eu to aqui vai passar vergonha!”. Ela queria me matar, me achou uma desajuizada, é obvio, mas entendeu. Voltei pra Belo Horizonte, fugi dele! Depois de um mês eu voltei e lá estava ele, me esperando. Eu não sabia se era real, mas ele me esperou e quando me viu de novo, perguntou se eu tinha fugido dele ou não queria nada mesmo com ele, eu não respondi, fiz a desentendida. Ele perguntou se eu ainda queria namorar com ele, igual eu falava quando tinha nove anos, eu disse que era criança na época que não deveria levar em consideração, mas ele me surpreendeu e disse que ele me queria como mulher dele, mãe dos filhos dele. Intenso, né? Eu sei, mas foi mágico. Começamos a sair, e descobri que ele era noivo, mas ele ficou noivo antes de me reencontrar, a noiva dele veio tirar satisfação comigo e mais uma vez eu fingi não me importar, disse que se ela não sabia segurar o homem dela eu não podia fazer nada, e que ela falando daquele jeito petulante que ela estava falando comigo, só ia me deixar com mais vontade, e a bichinha ficou louca, isso tudo foi num bar onde eu tava com meus amigos, ele tava em outra mesa e ficou rindo da situação, ele era um pilantra...”
Não sou igual minha mãe foi, não saberia lidar com essa de “não ligo pra você”. Porque o que eu mais faço é me importar com você, com o que pensa, faz, age e tudo que envolve você, talvez seja isso! É, eu acho que as vezes o que atrapalha nós dois sou eu, que convenhamos sou a pessoa mais insegura do mundo, minha mãe teve e ainda tem a maior auto-estima do mundo, mas eu não, eu não saberia não ligar pra você, não me importar com você.
“... Acabou que ele disse pra ela que não queria nada com ela e ficou comigo, me preferiu! Eu o ganhei. Namoramos sete anos... Os melhores da minha vida, ele me tratava como uma princesa, mas tinha os seus problemas, ele mexia com drogas e uma vez quase fomos presos, sorte minha que seu bisavô era o delegado da cidade na época e os guardas me viram e me libertaram, ele foi preso com os olhos cheios de lágrima. Eu via o amor dele no olhar, sabe? Eu sabia de tudo que ele era errado, mas era ele que eu queria, mas eu tinha medo, sua avó não suportava, ela morria de medo e seu avô, você sabe como ele era né? Preconceituoso com tudo que não fosse do jeito dele, do modo de vida dele, mas nada nos impediu. Porém, num carnaval ele disse que tinha que ir trabalhar fora e eu não acreditei, é claro, mas mesmo assim ele foi e eu resolvi ir também, e foi lá que eu conheci o seu pai... Eu tinha terminado com ele na época do carnaval, e quando ele descobriu que eu tinha ficado com outro, ficou louco, começou a me vigiar, mandar recados pra mim e tudo que você imaginar, mas eu vi que se eu continuasse com ele nada ia pra frente, sabe? Ele não tinha emprego fixo e sempre foi todo errado, então decidi ignorar, esperava ele me deixar de lado, então já namorando com seu pai, ele voltou a me procurar e me mandou um recado dizendo que estaria me esperando na casa dele, eu pensei em não ir, mas eu fui... E não me arrependo, ele estava louco, transtornado, ele pediu pra eu não deixá-lo, e eu não queria, porém, ao mesmo tempo eu tinha que fazer
— Você não pode me deixar.
— Você não trabalha. Você é um fodido... Eu quero alguém que cuide de mim, não quero viver assim, instável pra sempre.
— E o amor que você sente por mim? O amor que eu sinto?
— Amor a gente guarda...
— Tem certeza?
— Tenho.
Então foi a ultima vez que ficamos sozinhos, que ele me beijou e me abraçou e a gente esteve um com o outro. Ele se casou uma semana depois de mim, sabe com quem? A noiva dele que o perdeu pra mim na mesa de um bar, ela acha que ganhou, mas ela depois de muito tempo me disse que ele sempre disse que eu era a mulher da vida dele, então depois que eu vi que não tinha jeito, casei com seu pai, mas não me vejo mais sem o seu pai também.”
O amor da vida da minha mãe morreu faz pouco tempo, ela ficou abalada. Ela chorou por um amor de não sei lá quantos anos atrás.

Então tudo me levou imediatamente a você, porque, por mais que os anos passem, por mais que nossas vidas sigam caminhos não iguais e direções totalmente contrárias, sei que quando eu estiver com meus quarenta anos, o amor da minha vida, ainda será você... Porque você sabe, o pai dos meus filhos podem ser outro, mas o meu verdadeiro amor eterno só vai ser um.

domingo, 9 de junho de 2013

Perdidos no porão.

Você sabe por onde andamos juntos, mas não vai saber por andaremos separados. Fomos um casal. Fomos como se Elvis e Marilyn tivessem tido algum caso amoroso, tínhamos tudo para conquistar o mundo, mas ao mesmo tempo nunca tivemos nada que nos desse esse poder.
Mostrei minha mão calejada e você me mostrou seus joelhos com cicatrizes. Éramos sofredores. Amantes da dor, fazíamos sexo apenas no escuro, porque sabíamos que no escuro era onde nos sentíamos mais a vontade, era onde você chorava as suas perdas e eu soluçava minha vida vazia. Onde vamos andar sozinhos? Em qual avenida encontramos um novo amor? Nosso amor era doença, mas nunca havia me sentindo tão saudável nos últimos cinco anos quando eu não estava com você.
Os portões do paraíso se fecharam quando você foi embora. Mas eu ainda tento as janelas ou apenas fico esperando você para abri-lo mais uma vez pra mim. Querido, você teve meu coração e eu tive as suas migalhas de um amor que não foi amor. Cantávamos juntos, riamos juntos, mas não sabíamos amar juntos. Sempre você me amava mais um dia e eu te amava mais num outro. Dirigíamos rápido, tínhamos como nosso lema morrer jovem, mas também queríamos ter rugas juntos. Eu disse que não era pra me deixar e você jurou não deixar. Você disse pra eu maneirar nas minhas doses de drama e da maneira menos dramática possível eu disse que tudo bem, que iria mudar, mas o que não sabemos, o que eu não sabia até ontem, é que quando queremos que alguém mude por nós é porque está na hora de cair fora, eu só havia pedido pra não ser deixada e você queria que eu mudasse para que ficasse.
Éramos mais jovens quando nos conhecemos. O amor nos envelheceu a alma. Não precisamos de drogas para ficarmos alucinados, só bastava estarmos juntos que a noite não tinha fim, éramos como caçadores nas noites, íamos atrás daquilo que nos fizesse ir mais além do que poderíamos, sempre que juntos, estávamos atrás daquilo que nos fizesse voar e nós voamos algumas vezes juntos, de mãos dadas subíamos o mais alto e nos  atirávamos no mais profundo e escuro amor e nos perdíamos. Éramos os reis da nossa noite. Todos nos olhavam, queriam ter o nosso amor, todos queriam ter o que tínhamos, mas o que eles não sabiam que éramos assim apenas durante as noites, éramos os reis das ruas apenas quando a lua estava tocando o seu brilho na nossa pele, eles não imaginavam que durante os dias em que o sol era embarreirado pela janela do nosso velho apartamento, que éramos suicidas, que éramos infelizes, ficávamos o dia inteiro nos encarando e tentando reconhecer um no outro aquilo que durante a noite deixava de existir, e não sabíamos a resposta do que era isso, você trabalhava com seu pai e eu brincava de ser escritora. Desde que nos conhecemos sabíamos que éramos diferentes, que seriamos diferentes. Você viu em meus olhos o que eu assisti nos seus: dor. Vi em você os calos da vida e você viu em mim as cicatrizes que ela causa. Nossas tatuagens eram invisíveis. Nossa tinta não era azul ou preta, era vermelha.
Em qual rua você está? Sei que agora está doendo em você. Mas se você quiser eu posso não ligar mais para aquilo que dói em você. Somos intensos, meu bem, e é isso que intriga o mundo, nossa intensidade que nos afundou nele. Meus cigarros não têm durado duas horas em minhas mãos, sei que isso prejudica, sei que ele não é o melhor amigo que eu possa ter, mas ninguém entende o que tivemos, ou o que ainda temos. Ninguém entende que esse nosso amor baseado no que faz doer, concretizado é até morrer.
Nas ruas ontem eu notei coisas que nunca havia notado, notei que ser um casal normal, onde existe apenas coisas boas não é o que eu quero pra mim. Eu gosto desse lado escuro que a vida tem e ninguém resiste de viver, eu gosto de viver nos porões da vida, gosto das ruas sem luzes, gosto de dirigir rápido e deixar o meu cabelo dançar no vento. E foi isso que notei ontem andando nas ruas, notei que gosto de estar na escuridão, mas só sei viver assim com você. Não entendo o que houve, mas não precisamos de entendimentos, o que precisamos pra dar certo é apenas o céu escuro, a velocidade. Apenas dirija, apenas grite, apenas se deixe levar na escuridão; esse é o nosso lema. Não precisamos nos desculpar, só precisamos dar as mãos no escuro e mais uma vez fazer sexo no porão.